sábado, 27 de agosto de 2011

Óculos para quem quer ver


Quem pensa que já viu tudo nesta vida, engana-se, ainda mais se tiver que usar óculos depois dos 40 anos.
É estranho as vistas cansarem e com o passar do tempo adquirirmos uma dificuldade para enxergarmos as coisas.
Primeiro começa-se a procurar o foco, distancia-se o livro, o jornal, dos olhos até que as letras fiquem legíveis. Depois somos obrigados a procurar um oftalmo pois só encontramos o foco quando colocamos o jornal na sala e vamos à cozinha para lê-lo.
Exames, exames, idas e vindas ao consultório e o diagnóstico está pronto:
Olho esquerdo tantos graus, olho direito tantos.
Peregrinação pelas óticas. Óculos comprado, graus para perto, graus para longe, busca de adaptação e, pronto.
Ledo engano.
O óculos perturba, marca o nariz, pressiona as orelhas, cai, embaça, molha na chuva, tonteia, dá uma ar de mais velho, dificulta a leitura de perto, dificulta a leitura de longe...
É um caos.
Isto sem falar nas armações, um estilo mais moderno, outro mais conservador, ortodoxo, contemporâneo, que a linda atendente da ótica quer te vender, elogiando teu belo rosto e a fácil adaptação a todos os estilos. Aha, sei, sei.
É um caos, mas a necessidade te força a buscar meios de conciliação e quando pensas que já te adaptastes ao "ajudante de visão", que já vês melhor, e as imagens estão bem focadas, vem o médico, doutor, oftalmo, e te oferece lentes de contato, expondo 1001 vantagens, estética, praticidade, preço, originalidade... e planta aquela dúvida na tua mente:
Trocar ou não trocar?
Eis a questão para um próximo texto...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pensamentos...


Disco de vinil.
Carlos Gardel no original: "El dia que me quieras...".
A lenha em brasa na lareira. O chimarrão com leve sabor de hortelã colhido no canteiro de casa.
Outra música em "castelhano" :
"Adios muchachos compañeros de mi vida...", pensamentos viajam e circundam estradas esburacadas, buracos negros, obstáculos que me trazem em regresso. O plano de voo ainda não foi aprovado pela torre de comando.
Roupas velhas tiradas do bau em meio a livros e algumas folhas amareladas com antigas anotações.
Escrevo para leres. Cheiro de mofo.
Os escritos parecem atuais e as dúvidas de antes são iguais as de agora.
Leio, escrevo, re/escrevo.
O disco acabou e a agulha gasta fica repetindo a última canção. A última canção. A última canção...
Passo a passo, passo e, na rodada da vez, não jogo.
A solidão não é presencial. É de ideias, ideais, objetivos, rumos.
Nem todos os pensamentos pensam e eu não sei, repetindo, o que pensam os meus, o que pensam os teus...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O amor é irracional

Sete graus marca o termômetro da Rodoviária, mas a sensação térmica é de três. São 8:37h e estou aguardando o ônibus das 9:00h. Leio a coluna do L.F.Verissimo na página 2 da Zero Hora e faço uma leitura dinâmica das más notícias do dia.
Está muito frio.Observo as pessoas escondidas em seus casacões, debaixo de tocas e gorros, mantas e cachecóis. Todos encolhem-se e colocam-se no vácuo de um sopro e outro do vento, como que se isto fosse possível.
Tenho a passagem à mão, poltrona nº 4 e sento na de nº15, é sempre uma oportunidade de diálogo..
Os passageiros sobem.
Um homem; dois adolescentes; um casal de jovens, ela senta bem a frente e ele vai ao fundo, com o rádio do celular ligado na "Rádio Alegria", poluindo sonoramente o ambiente; uma senhora com uma criança a tira-colo e mais um casal.
Ele magro, alto, de óculos, tênis de marca, abrigo (parece que está pronto para a corrida matinal), carregando duas bolsas e uma sacola, ela com l,56 m de altura, cabelos claros, sorriso escancarado, toda encasacada, também com duas bolsas.
- Vou sentar aqui, ela disse  (logo atrás da minha poltrona)
- Precisa de mais alguma coisa? ele disse preparando-se para sair do ônibus...
- Amor, respondeu e ganiu, e rosnou e ululou como uma cachorra, pulando contra ele, beijando-o no rosto, no pescoço, nos lábios, em pleno corredor do ônibus. Beijando e emitindo sons característicos de um cão de uma cachorrinha feliz por estar com o seu dono.
Mais passageiros e um beijo final entre  o casal e muitas juras de amor até que ele sumisse porta afora.
Ri sozinho.
Ri muito e percebi que os demais passageiros entreolhavam-se, admirados e estupefatos com aquela situação, aquela "relação" ... Cão/Dono.
O motor do ônibus já roncava.
Olhei pela janela e vi o rapaz acenando para a moça/cachorra, deitada sentada na poltrona logo atrás da minha e ela, instintivamente, acenava, e gania, rosnava, ululava e batia as patinhas no vidro e gania e sorria e ululava e batia as patinhas no vidro da janela do ônibus.
O ônibus partiu, o rapaz acenava de longe e ela aos poucos acalmou-se, sentou-se na poltrona com o rabo entre as pernas comportadamente e o ônibus seguiu seu destino.
- Ainda bem que a cachorra não estava no cio, comentou o motorista quando eu descia, na minha parada.
Ainda bem, concluo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cheiro de saudades


 
Estamos de vizinhos novos e pelo visto eles gostam de cozinhar, pois o odor de temperos está se impregnando nas paredes do corredor.
A noite ou ao meio dia, quando abro a porta do edifício o cheiro forte de alho já penetra em minhas narinas e fica por horas dificultando meu dicernimento de outros sabores. Não sou vampiro, mas odeio alho. Não pensei que odiava tanto. Não conheço bem os vizinhos novos, mas penso que também já os odeio. Hehehe.
A propósito de cheiros, dia desses, no meio da tarde, sai do trabalho e fui pra casa. Sabia que não estavas, mas quando comecei a subir as escadas senti aquele cheiro de café passado que provoca ótimas lembranças e mexe com todos os meus sentimentos. Meus olhos brilharam, e meu coração acelerou. Fazia três dias que estavas fora e fiquei feliz pela surpresa. O cheiro gostoso do café pairava no ar do corredor e quando abri a porta... que frustração!!! No apartamento desapareceu o cheiro, não tinha nenhuma cafeteira ligada e tu não estavas, não tinhas voltado da tua pequena viagem.
Preparei uma xícara de café solúvel, saboreei-o, mas o vazio da tua ausência ficou em mim marcado.
Depois disto, já tomamos outros cafés juntos, mas aquela tarde foi assim. Um cheiro, uma saudade, a tua ausência, uma frustração e a valorização dos sentidos e dos sentimentos.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Palavras

 


Páginas amareladas
provocam as palavras
que nelas habitam.
Ruelas pararelas
em ladeiras que se multiplicam
explicam o cair.
Ventos fortes
assopram folhas
que se perdem.
Voa, voa, voa
e simplifica o pensar.
Noite escura,
penumbra,
palavras
a calar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Estrondos


Estrondos
Invadem o ar molhado da manhã
espalhando o som pelo horizonte.
Nada se vê
só os pingos
encorpados
a bater nas marquizes
e nos carros que rompem a avenida
correndo
e fugindo
em direções opostas.
A chuva não pára e
os raios
multiplicam-se
provocando
Estrondos
que invadem o
ar molhado
da manhã…