quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O amor é irracional

Sete graus marca o termômetro da Rodoviária, mas a sensação térmica é de três. São 8:37h e estou aguardando o ônibus das 9:00h. Leio a coluna do L.F.Verissimo na página 2 da Zero Hora e faço uma leitura dinâmica das más notícias do dia.
Está muito frio.Observo as pessoas escondidas em seus casacões, debaixo de tocas e gorros, mantas e cachecóis. Todos encolhem-se e colocam-se no vácuo de um sopro e outro do vento, como que se isto fosse possível.
Tenho a passagem à mão, poltrona nº 4 e sento na de nº15, é sempre uma oportunidade de diálogo..
Os passageiros sobem.
Um homem; dois adolescentes; um casal de jovens, ela senta bem a frente e ele vai ao fundo, com o rádio do celular ligado na "Rádio Alegria", poluindo sonoramente o ambiente; uma senhora com uma criança a tira-colo e mais um casal.
Ele magro, alto, de óculos, tênis de marca, abrigo (parece que está pronto para a corrida matinal), carregando duas bolsas e uma sacola, ela com l,56 m de altura, cabelos claros, sorriso escancarado, toda encasacada, também com duas bolsas.
- Vou sentar aqui, ela disse  (logo atrás da minha poltrona)
- Precisa de mais alguma coisa? ele disse preparando-se para sair do ônibus...
- Amor, respondeu e ganiu, e rosnou e ululou como uma cachorra, pulando contra ele, beijando-o no rosto, no pescoço, nos lábios, em pleno corredor do ônibus. Beijando e emitindo sons característicos de um cão de uma cachorrinha feliz por estar com o seu dono.
Mais passageiros e um beijo final entre  o casal e muitas juras de amor até que ele sumisse porta afora.
Ri sozinho.
Ri muito e percebi que os demais passageiros entreolhavam-se, admirados e estupefatos com aquela situação, aquela "relação" ... Cão/Dono.
O motor do ônibus já roncava.
Olhei pela janela e vi o rapaz acenando para a moça/cachorra, deitada sentada na poltrona logo atrás da minha e ela, instintivamente, acenava, e gania, rosnava, ululava e batia as patinhas no vidro e gania e sorria e ululava e batia as patinhas no vidro da janela do ônibus.
O ônibus partiu, o rapaz acenava de longe e ela aos poucos acalmou-se, sentou-se na poltrona com o rabo entre as pernas comportadamente e o ônibus seguiu seu destino.
- Ainda bem que a cachorra não estava no cio, comentou o motorista quando eu descia, na minha parada.
Ainda bem, concluo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário