Está muito frio.Observo as pessoas escondidas em seus casacões, debaixo de tocas e gorros, mantas e cachecóis. Todos encolhem-se e colocam-se no vácuo de um sopro e outro do vento, como que se isto fosse possível.
Tenho a passagem à mão, poltrona nº 4 e sento na de nº15, é sempre uma oportunidade de diálogo..
Os passageiros sobem.
Um homem; dois adolescentes; um casal de jovens, ela senta bem a frente e ele vai ao fundo, com o rádio do celular ligado na "Rádio Alegria", poluindo sonoramente o ambiente; uma senhora com uma criança a tira-colo e mais um casal.
Ele magro, alto, de óculos, tênis de marca, abrigo (parece que está pronto para a corrida matinal), carregando duas bolsas e uma sacola, ela com l,56 m de altura, cabelos claros, sorriso escancarado, toda encasacada, também com duas bolsas.
- Vou sentar aqui, ela disse (logo atrás da minha poltrona)
- Precisa de mais alguma coisa? ele disse preparando-se para sair do ônibus...
- Amor, respondeu e ganiu, e rosnou e ululou como uma cachorra, pulando contra ele, beijando-o no rosto, no pescoço, nos lábios, em pleno corredor do ônibus. Beijando e emitindo sons característicos
Mais passageiros e um beijo final entre o casal e muitas juras de amor até que ele sumisse porta afora.
Ri sozinho.
Ri muito e percebi que os demais passageiros entreolhavam-se, admirados e estupefatos com aquela situação, aquela "relação" ... Cão/Dono.
O motor do ônibus já roncava.
Olhei pela janela e vi o rapaz acenando para a moça/cachorra,
O ônibus partiu, o rapaz acenava de longe e ela aos poucos acalmou-se, sentou-se na poltrona
- Ainda bem que a cachorra não estava no cio, comentou o motorista quando eu descia, na minha parada.
Ainda bem, concluo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário